A região Oeste e o Paraná dão aula quando o assunto é piscicultura. Os produtores de peixes em tanques escavados da região são responsáveis por 70% de toda a produção do Estado. Por sua vez, o Paraná dita o ritmo da atividade no Brasil com um quarto do volume produzido. São dados importantes e que espelham o papel fundamental da atividade no setor econômico e na geração de emprego e renda no campo. Entretando, muitos gargalos precisam ser vencidos.
Apesar dos desafios pela frente, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) estima que em cinco anos a piscicultura paranaense dobre sua produção, crescendo a uma média de 20% ao ano. Se os prognósticos se concretizarem, o volume de peixes cultivados no Paraná saltará de 188 mil toneladas para 376 mil toneladas até 2027.
“É uma cadeia ainda pequena em comparação com a soja, mas com um enorme potencial de crescimento. O peixe é uma proteína nobre, que tem tido uma procura cada vez maior. Hoje, a piscicultura paranaense gera cerca de R$ 1 bilhão por ano. A nossa projeção é de que a atividade passe a movimentar R$ 2 bilhões dentro de quatro anos”, aponta Edmar Gervásio, especialista do Deral que acompanha a cadeia.
Alguns fatores explicam a hegemonia paranaense quando se fala em peixes de cultivo. Para o presidente da Comissão Técnica (CT) de Aquicultura do Sistema FAEP/SENAR-PR, Edmilson Zabott, o Paraná saiu na frente por ter sido o primeiro a apostar na produção de tilápia em escala significativa. Além disso, a piscicultura se adaptou bem às condições de produção do Estado, principalmente nas regiões Oeste, Noroeste e Norte. O clima propício, com períodos curtos de frio, favorece o cultivo de peixes em pequenas e médias propriedades, coexistindo com outras atividades agropecuárias.
A tilápia foi introduzida no Paraná no início da década de 1990. Desde então, a tecnologia tem se constituído como forte aliada. Mesmo com limitações, os produtores investem na melhoria dos processos de manejo, fluxo de alimentação e recirculação de água e de aeração.
O técnico do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR que acompanha a cadeia, Alexandre Lobo Blanco ressalta o cuidado que o produtor precisa ter com a questão sanitária e a ênfase em genética. Ele sugere, por exemplo, que o piscicultor pesquise o histórico do fornecedor de alevinos, preferencialmente, fazendo visitas às instalações. “É imprescindível que se tenha cuidados sanitários. Uma doença pode fazer com que o piscicultor tenha que esvaziar o tanque, fazer o tratamento do fundo de viveiro e enchê-lo de novo. Nisso, ele perde o lote, sem falar no custo de manejo e no tempo de criação”, aponta.
R$ 1 milhão para financiamento
O presidente da Comissão Técnica de Aquicultura da FAEP (Federação dos Agricultores do Estado do Paraná), Edmilson Zabott, demonstra preocupação com a cadeia de produção dessa proteína. “O Estado hoje detém o status de maior produtor de tilápias do Brasil. Em contrapartida, os incentivos ainda são modestos”. Ele aponta no momento a dificuldade em obter os licenciamentos e as outorgas.
Além disso, o custo elevado da energia elétrica e o fim da Tarifa Rural Noturna obrigam os produtores de peixes a voltar às atenções para o uso de energias renováveis, como as fotovoltaicas, por intermédio do programa estadual RenovaPR. “Precisamos da ampliação de mais recursos e a dilatação do prazo deste programa”, sugere Zabott. O apelo é para a liberação total de R$ 1 milhão em recursos para fins de financiamento e a expansão do programa para mais dois anos.
Garantia de compra e venda e custo de produção são desafios
O elevado custo de produção e a falta de uma política de compra e venda de peixes são apontados pelo piscicultor André Heitor Costi Neto, do interior de Cascavel, como os principais desafios da atividade no momento. A adesão a um sistema de integração também seria uma oportunidade interessante e atrairia um número maior de produtores, segundo ele.
Há cerca de duas semanas, piscicultores participaram de uma reunião na Câmara de Vereadores, para debater alternativas para o segmento. “A produção de peixes é uma atividade complementar de renda dos pequenos produtores. Hoje, não é possível depender 100% da piscicultura para a subsistência”, comenta André, que é vice-presidente da Aquioeste (Associação dos Aquicultores e Piscicultores do Oeste do Paraná). A associação existe há três anos e seus associados respondem por 60 hectares de lâmina d´água. “Nos próximos anos, queremos chegar a 600 hectares”, estima Costi Neto. “Isso nos fará a ter voz e vez na compra e venda”. Os cursos oferecidos pela associação já qualificaram ao menos 150 produtores. “Só que muitos destes deixaram a atividade por não suportar os efeitos provocados pela crise e dificuldades para produzir pelo custo de produção elevado e a ausência de suporte técnico”.
Costi Neto está na atividade há seis anos. As dificuldades na produção de tilápia o fizeram a migrar para o dourado, um peixe diferenciado e que necessita de iscas vivas como lambari, acará e tilápia para se alimentar. A ração passou de principal, para alimento suplementar. No tempo da tilápia, ele cultivava 25 mil peixes e um investimento diário de R$ 400 a R$ 500 atribuídos aos 250 quilos de ração. “Antes da pandemia, o saco de 25 quilos de ração custava entre R$ 36 e R$ 46. Hoje, não se compra por menos de R$ 150”. Agora, o produtor tem apenas algumas tilápias matrizes para fazer a desova dentro dos tanques para suprir a carência alimentar dos dourados.
Fonte: Jornal O Paraná. Disponível em: